Fonte : O Popular –
Criado pela Constituição de 1988 para garantir acesso integral, universal e gratuito à toda população do Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) provoca muitas e graves reclamações de seus usuários. Desperdício de recursos, falta de gestão eficiente e de investimentos em prevenção são apontados como os principais gargalos que impedem seu sucesso. O diagnóstico é compartilhado pelos médicos e ex-secretários de Estado da Saúde do Ceará, Antônio Carlile Holanda Lavor e Jurandi Frutuoso Silva.
Segundo Carlile, a barganha evidencia a importância de uma pasta cujo orçamento anual é de R$ 100 bilhões. “Mas não vemos nessa disputa um debate de modelos para enfrentar os problemas do SUS, só o tamanho do orçamento ministerial. O modo de se realizar a demissão/nomeação evidencia a gravidade da situação política que vivemos”, comenta o ex-professor da Universidade de Brasília (UnB), Doutor Honoris Causa da Universidade Vale do Acaraú e responsável pela implantação de uma unidade da Fundação Oswaldo Cruz no Ceará.
Embora o SUS tenha levado as pessoas a reconhecer mais seu direito, escrito na Constituição, e a responsabilidade do Estado no sistema de saúde, muito ainda precisa ser feito, avalia Carlile, mencionando o trabalho dos servidores, especialmente dos que se dedicam à pesquisa, e dos gestores, para inovar e aprender com as experiências locais e internacionais que conseguem resultados muito melhores com recursos escassos. “Desperdiçamos muito recursos. Deveríamos investir mais em medicina da família, que trabalha de forma preventiva”, avalia.
Para Jurandi Frutuoso Silva, secretário-executivo do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass) desde 1997, especialista em Gestão de Sistemas Locais de Saúde e mestre em Saúde Coletiva, o SUS sofre várias ameaças e o subfinanciamento é a principal delas. Segundo ele, alguns desafios não foram superados e precisam ser enfrentados pelo SUS: rever modelos institucional e assistencial; melhorar gestão e a formação da força de trabalho; investir em ciência e tecnologia, principalmente no que tange a incorporação tecnológica; garantir participação social e financiamento. Ele ressalta ainda a importância do papel da gestão estadual e municipal na garantia de saúde como direito.
A melhoria do atendimento, na visão de Jurandi, “passa necessariamente pelo esforço coletivo para a organização das Redes de Atenção à Saúde”. Ele afirma que o SUS de base municipal está esgotado e que a regionalização é o caminho para garantir a integralidade da assistência. “Tudo isso, repito, organizado em Redes de Atenção à Saúde, ordenadas por uma atenção primária resolutiva, responsável, que coordene todo o cuidado e que tenha como base a Estratégia Saúde da Família.”