Por JB Alencastro
Nesse exato momento parece-me que a maioria das pessoas se vêem obrigadas a estarem alegres, satisfeitas e até exultantes. Não há espaço para reflexão, para observar plantinhas, peixes no aquário ou simplesmente o nada. Ficar parado, então; nem pensar.
Ninguém fica chateado do nada. Não se acorda chateado. Sempre há um motivo, externo. Essa razão pode estar escondida na sua alma, no detalhe simples de que alguém não deu valor a um gesto ou palavra sua. Uma reprimenda de alguém que você preza, admira; dói. E assim por diante.
Lembro-me sempre de Epicteto, filósofo estoico: “O que perturba as pessoas não são as coisas em si, mas seus julgamentos sobre as coisas”. Estar chateado com algo não é propriamente a função do “chateador” que a causou. Foi a sua interpretação sobre esse fato que lhe levou a angústia.
“Diga a si mesmo no início do dia, eu vou encontrar com pessoas intrigantes, ingratas, violentas, traiçoeiras, invejosas e insociáveis”, recomenda o mesmo Epicteto. Oras, se tudo vai ser ruim desse jeito, para que eu vou sair? Mas a resposta está exatamente no contrário. Para que ficar chateado se você seguir o seu rumo, a sua natureza, deixando – ou mesmo ignorando – a voz dos idiotas? Apenas faça: liso, reto, direto, simples, sereno.
Tristeza é um grau a mais. E eu gosto – como escritor – muito desse sentimento. Ele motiva, ele inspira, ele aumenta a criatividade. Dar-se o direito de estar triste é eminentemente nobre. Fingir uma alegria que inexiste naquele momento é cruel. E uma grande besteira. Porém jamais confunda depressão – que existem no mínimo uns cinco quadros clínicos diversos – com tristeza. São diferentes. A primeira é boa, faz parte da vida, a segunda é patológica; química. Como se fosse uma chuva monótona no fim da tarde de domingo na soleira da porta da fazenda; tristeza. Ou então tempestade no meio da mata, com raios, frio e vento e você não consegue fazer nada, nem se mexer; depressão.
Gosto muito quando Espinoza diz: “Sendo todas as outras coisas iguais, o desejo que nasce da alegria é mais forte que o desejo que nasce da tristeza.” A ideia de uma alegria ativa, motivada, é simplesmente o amor. Precisamos de sentirmo-nos tristes para podermos alcançar a felicidade, mesmo que essa seja sempre momentânea. Muito cuidado com a obrigatoriedade atual de pensar rápido, de decidir agora, de dormir pouco, aproveitar o momento. Isso é deveras falso e apenas conduz as pessoas a extensas frustrações. E o jovem hoje não suporta isso. Como será o adulto amanhã?
Por último a depressão, ela sim é doença. E deve ser tratada como tal. Se mais forte do que a vontade, a origem é química e deve ser medicada. Não obstante, sempre caminhar junto com a terapia. O autoconhecimento é libertador. “Conhece-te a ti mesmo”, Sócrates. Os sinais da doença são silentes. Sutis. As vezes quase imperceptíveis. Mas ela está lá, corroendo a pessoa de maneira absoluta. Até ao ponto dela para alívio final, ceifar a própria vida.
Por favor, vamos olhar mais para quem está ao nosso lado. Como são diferentes a chateação, da tristeza e da depressão. Podem ser degraus galgados pouco a pouco, mas o ser humano também pode dar um salto no vazio da depressão. Evitemos a “tirania da felicidade”. Atualmente, sofre-se também por não querer sofrer, do mesmo modo que se pode adoecer de tanto procurar a saúde perfeita.
Vá nas pequenas coisas. Uma música, um elogio, uma comida feita com carinho, uma leitura, uma caminhada. O simples momento de estar só e em comunhão com a Natureza que o cerca, a sua e a do mundo exterior. Tudo isso soma-se para a profundidade de estar satisfeito, alegre, e quando der: feliz. Mas sobretudo, em paz.