Dia 2 de abril foi o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. A data foi criada em 2017, pela Organização das Nações Unidas, com o objetivo de informar e conscientizar a população sobre esta condição, com a finalidade de reduzir a discriminação e o preconceito contra os indivíduos que apresentam o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Para falar sobre a Conscientização do Autismo Infantil, a Associação Médica de Goiás convidou a pediatra Dra. Ana Márcia Guimarães.
A especialista possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de Goiás (UFG) (1994). Residência em pediatria pelo Hospital Materno Infantil SES-GO (1994-1996). Qualificação Acadêmica em Psiquiatria Infantil pelo Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFG (2010-2012) e pela Santa Casa de Misericórdia do RJ (2013-2015). Membro do conselho científico do Departamento de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria, gestões 2016-2018, 2019-2021 e 2022-2024. Membro da diretoria da Sociedade Goiana de Pediatria, gestões 2013-2015, 2016-2018, 2019-2021 e 2022-2024. Atuação profissional na área do desenvolvimento atípico no Órion Business & Heath Complex.
Confira a entrevista completa:
AMG: Como a Doutora vê o Autismo?
Dra.: Para mim o espectro autista é uma condição que alguns indivíduos possuem no seu padrão de interação social, sendo atípico, na troca de informações sociais e essa pessoa tem também uma forma mental mais rígida de ser. Sendo rígido, inflexível e que, portanto, gosta e sente prazer em repetir comportamentos.
AMG: Como identificamos o que pode ser o ritual para o paciente com autismo?
Dra.: O ritual é uma repetição de vias neurológicas. O cérebro faz uma reentrância daquele comportamento, daquela linguagem, daquela atitude motora. Em momentos em que ele lembra de algo semelhante, ele repete, em vez de generalizar para criações novas, ele repete. No momento em que o cérebro percebe uma semelhança, seja motora, seja comportamental, seja vocal ele repete. Isso é um ritual.
AMG: Aonde podemos ver a diferença de rotina para ritual?
Dra.: A rotina não é o mesmo que ritual, isso é muito confundido, nem sempre o autista não de rotina, mas sempre é ritualista. Algo que está como ritual, nem sempre está ali na vida diária. O Ritual é prazeroso, é desejado pelo autista, ele necessita e busca deliberadamente o ritual. Sendo o ritual uma atitude mental repetitiva, sendo uma mesmice.
AMG: Como é feito hoje o diagnóstico para a criança autista.
Dra.: O diagnóstico do TEA é clínico, 100% clínico. Não se faz exame para o diagnostico do autismo, os exames são complementares e podem ser necessários em um determinado paciente e em outros não. Pode ser necessário um eletrocardiograma, uma tomografia, de um exame genético, mas não para fechar o diagnostico, avaliações neuropsicológicas também são úteis em alguns casos, mas não são pedidas para que se feche o diagnóstico. Uma criança que apresentou, nos primeiros anos de vida, normalmente até os 3 anos de idade, déficits na comunicação social e padrões rígidos, repetitivos e estereotipados de comportamento, junto com alterações sensoriais, tem o direito de receber o diagnóstico de espectro do autismo, para que seja encaminhada ao tratamento certo.
AMG: o que significa o Critério A e o Critério B?
Dra.: Quando falamos Critério A, estamos falando de déficit da comunicação social, isso significa que a criança pode ou não atrasar a fala, mas ela sempre apresentará prejuízos dos meios não verbais de comunicação social, que são olhar ao ser chamado pelo nome, sustentar o olhar, apontar olhando para quem vai pegar o que ela deseja, imitação social, gestos e mímicas para transmitir suas intenções, entregar objetos, compreender o outro e responder adequadamente. Estas são atitudes não verbais da comunicação social.
O Critério B, são os padrões repetitivos, as estereotipias motoras ou comportamentais, os interesses restritos e a rigidez de comportamento, além das alterações sensoriais.
AMG: Quais são hoje, os maiores sintomas apresentados na criança com autismo?
Dra.: O sintoma que mais frequentemente faz a família trazer a criança ao consultório é o atraso da fala. Espera-se que a criança, antes de 1 ano, já emita balbucios, com 1 ano e 2 meses ela já fala algumas palavras como papai e mamãe que são socialmente direcionadas, com 1 ano e meio espera-se uma produção verbal de pelo menos 30 palavras, com 2 anos a criança já tem que falar mais de 100 palavras e formar frases de duas palavras, e com 3 anos ela tem uma linguagem praticamente completa.
AMG: Como esta atualmente o tratamento para a criança com autismo?
Dra.: O tratamento que tem evidencias científicas de resultados positivos no espectro autista é a Analise Aplicada do Comportamento, que é o Tratamento ABA.
AMG: Poderia falar um pouco mais sobre o Tratamento ABA?
Dra.: O tratamento do espectro do autismo pela ciência ABA começa sempre com uma avaliação funcional dos prejuízos que aquela criança apresenta naquele momento. Após esta avaliação a terapeuta ABA cria os programas de estimulação precoce que são o tratamento propriamente dito do autismo, que é aplicado em intensidade e frequência altas. Periodicamente esta criança é reavaliada e os programas ajustados, assim ela vai aprendendo e diminuindo os atrasos no seu desenvolvimento.
AMG: Esse tratamento envolve uma única especialidade ou seria multidisciplinar?
Dra.: O protocolo internacional de estimulação precoce preconiza que o tratamento deve ser multidisciplinar. Precisamos de ao menos 3 especialidades, sendo a psicóloga ABA, a fonoaudióloga que vai estimular, além a fala a comunicação social, e a terapia ocupacional, porque 100% das pessoas do espectro autista têm alterações sensoriais. Algumas crianças necessitam de outras especialidades, como fisioterapia, musicoterapia, psicomotricidade etc., isso depende da avaliação individual de cada criança.
AMG: O que significa o autismo para a Dra.?
Dra.: Dar o diagnóstico de autismo para uma criança significa, para mim, uma oportunidade para que aquela pessoa atinja o seu potencial máximo, diminuindo a vulnerabilidade dela para outros problemas, como ansiedade, depressão e disfuncionalidades.
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