No dia 4 de março, em todo o mundo, é celebrado o Dia Mundial da Obesidade, que tem como objetivo conscientizar a população sobre os riscos da doença e, principalmente, levantar mecanismos de prevenção para uma vida mais saudável. A Associação Médica de Goiás convidou o Dr. Leonardo Emílio da Silva para conversar sobre esta doença que atinge cada dia mais crianças, jovens, adultos e idosos.
O Dr. Leonardo Emílio é diretor do Instituto de Cirurgia do Aparelho Digestivo e Obesidade, Conselheiro do Conselho Federal de Medicina, Coordenador das Câmaras Técnicas: (1) Cirurgia Bariátrica e Metabólica e (2) Endoscopia Digestiva do CFM, é professor de medicina na UFG e mestre do capítulo Goiás no Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Em 2018, foi eleito para o Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás, onde coordena a recém-criada Câmara Técnica de Telemedicina.
Confira a entrevista completa:
AMG: A Obesidade é uma doença?
Dr. Leonardo Emílio: A obesidade é uma doença crônica incurável e que está associada diretamente as quatro principais causas de morte precoce a saber: as doenças cardiovasculares; o diabetes; as doenças respiratórias crônicas e o câncer.
AMG: Por que é importante celebrarmos o Dia Mundial da Obesidade?
Dr. Leonardo Emílio: Importante por vários fatores. Primeiro porque a obesidade é uma doença evitável. É um dia de conscientização de que a obesidade é essa doença e que tem uma implicação sobre a vida e sobre a causa de morte precoce no mundo. Então, precisamos tomar a consciência que a obesidade não é simplesmente não ter força de vontade. Você está doente, de uma doença que se chama obesidade. E esse é o ponto de partida, isso não só para a comunidade em geral, mas para a classe médica, porque os médicos precisam ter consciência disso: a obesidade necessita de um tratamento.
AMG: Quais são os estigmas que essa doença pode criar?
Dr. Leonardo Emílio: O dia é importante para conscientizar que a pessoa está doente, ela não está obesa porque ela quer. Não é apontar o dedo e falar ‘que está gorda’, fazer esse bullying que se cria com a obesidade não é certo.
AMG: Como é o quadro de pacientes com obesidade no mundo?
Dr. Leonardo Emílio: O mundo hoje é obeso, e a perspectiva é ruim. A perspectiva é que até 2030 nós tenhamos 1 bilhão de obesos no mundo. Considerando que a população mundial girará em torno de 8 bilhões de pessoas, teremos 1 obeso para cada 8 pessoas no mundo. E no Brasil não é diferente, 62% da população está constituída de pessoas que estão acima do peso, destes entre 21% a 23% são indivíduos obesos.
AMG: Como tratar? Existe alguma diferença entre o tratamento para um adulto ou para uma criança que esteja com obesidade?
Dr. Leonardo Emílio: Sim, nós tentamos fazer duas coisas, a prevenção e o tratamento. Na prevenção, falamos em hábitos de vida corretos, com alimentação saudável e atividade física regular. Isso associado com uma intervenção médica, que seja remédio ou uma cirurgia, pode-se chamar de tratamento.
Há aproximadamente um mês, foram autorizados nos Estados Unidos, alguns protocolos de tratamentos de algumas drogas que não eram utilizadas. O tratamento na criança era muito mais difícil, até mesmo porque, o comportamento de uma criança é diferente. E o suporte psicológico em todos os casos é importante, mas em uma criança ele é muito mais necessário.
AMG: O tratamento é, então, mais difícil em crianças? E em idosos?
Dr. Leonardo Emílio: Esse tratamento é muito difícil nos dois extremos, tanto na criança como no idoso. Hoje, podemos operar adolescentes a partir de 16 anos, porém, nestes casos temos os piores resultados em questão bariátrica. São pacientes que aderem muito pouco as mudanças e que diante de uma dificuldade normalmente não lidam muito bem e acabam regredindo. O mesmo acontece com os idosos.
Se falarmos do tratamento da criança, o envolvimento da família é essencial, a estrutura familiar vai ter ponto determinante para a criança ser obesa ou não, os hábitos em casa são de extrema importância. Não dá para tratar uma criança do ponto de vista emocional, sem a participação direta de toda a família.
AMG: Entre atividade física e alimentação correta, existe um mais importante?
Dr. Leonardo Emílio: O mais importante é a atividade física, porém não dá para escolher apenas um dos dois. Eles devem caminhar juntos. Mas do ponto de vista de saúde, a perda de peso na verdade é uma coisa importante. A atividade física além de proporcionar a perda de peso, possibilita uma condição de saúde primária, que é do seu coração, da parte cardiovascular, da parte respiratória. Assim, a atividade física te traz um benefício maior orgânico. No entanto não adianta você fazer exercício e ‘chutar o balde’ na alimentação. Tem que ter esse balanço, uma essência no tratamento da obesidade.
AMG: Como a pandemia da Covid-19 afetou a doença obesidade?
Dr. Leonardo Emílio: Na verdade, piorou e muito. Entre 2019 e 2022, tivemos um aumento substancial no número de obesos, algo próximo a 11%. Os motivos estão atrelados ao sedentarismo principalmente, pois boa parte das pessoas ficou em casa trabalhando em frente a um computador.
Esta realidade afetou principalmente as crianças e adolescentes, pois o dia a dia deles virou o próprio computador. A escola, a diversão, o encontro, o filme se transformaram em momentos dentro de casa. Um contexto totalmente sedentário.
AMG: O refrigerante é realmente um vilão?
Dr. Leonardo Emílio: É vilão porque o volume de açúcar no refrigerante é muito alto. Principalmente refrigerantes que são regulares, que tem açúcar em sua composição. E mesmo os que não tem açúcares, em sua base, tem um xarope de amido de milho que possui um índice glicêmico alto. Podendo levar ao ganho de peso e sobrecarga hepática, induzindo a esteatose hepática.
AMG: Comentamos anteriormente que a doença da obesidade pode gerar problemas psicológicos. Como estão relacionados?
Dr. Leonardo Emílio: Hoje, sabidamente, 70 a 72% dos obesos tem alguma alteração emocional associada, que seja depressão, compulsão, ansiedade. Esses três fatores estão presentes em 7 de 10 casos. Então não é possível desvincular o tratamento da obesidade destes fatores emocionais que são considerados causas e consequências. A ansiedade leva o indivíduo a comer mais, ao mesmo tempo que a obesidade leva a pessoa a ficar ansiosa.
Importante salientar que a obesidade não é tratamento que envolve um único médico. É um tratamento multiprofissional, que envolve, inclusive, a assistência psicológica.
AMG: Quais suas considerações finais e mensagem sobre o Dia Mundial da Obesidade?
“Primeiro, obesidade é uma doença; sendo uma doença, ela necessita de tratamento, então busque ajuda profissional. Através de um endocrinologista, através de uma nutricionista, através de um cirurgião bariátrico, que seja. Além disso, a obesidade não é uma doença de causa única e não existe obeso saudável. A obesidade é uma questão de saúde pública. Hoje, seguramente, é a pior epidemia no mundo.
A Associação Médica de Goiás agradece o Dr. Leonardo Emílio da Silva por seu tempo e disposição nesta entrevista.
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