De acordo com a Associação Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB), aproximadamente 4% da população adulta mundial sofre de transtorno bipolar. No Brasil, a prevalência se equipara, atingindo 6 milhões de pessoas no país. No dia 30 de março, é celebrado o Dia Mundial do Transtorno Bipolar, data criada com o objetivo de conscientizar a população sobre a importância do tratamento precoce para evoluir com um bom prognóstico.
A Associação Médica de Goiás convidou a Dra. Lucena De Cássia Rodrigues Rosa para falar sobre o tema. “O transtorno bipolar é uma doença igual a qualquer outra. Por isso, lutamos contra o estigma e o preconceito com as doenças mentais, psicofobia, levando informação à população para educar e sensibilizar para a doença que é um desafio significativo para pacientes, profissionais de saúde, familiares e comunidade”, afirma a especialista.
A Dra. Lucena Rosa é médica psiquiatra e psicoterapeuta, formada pela Faculdade de Medicina-UFG-GO (1898-1994); já passou por várias apresentações e fez parte de workshops do Instituto Flamboyant.
Confira a entrevista completa:
AMG: Como podemos definir o Transtorno Bipolar?
Dra. Lucena Rosa: O Transtorno Bipolar do Humor é uma doença mental em que a alteração primária é a alteração de humor, alternando fases de hipomania/mania, depressão e disforia, com sintomas característicos de cada fase, em alternância dessas fases ou mesmo com sintomas mistos. Trata-se de uma doença crônica em que é necessário o tratamento precoce para evoluir com um bom prognóstico. É diferente do Transtorno Depressivo, unipolar, em que os sintomas são característicos da depressão, com evolução, prognóstico e tratamento distinto, por isso o diagnóstico correto é fundamental para a remissão e qualidade de vida.
AMG: Como entender a diferença do que realmente chamamos de transtorno bipolar, para a variação de humor de um bom/mau dia?
Dra. Lucena Rosa: É fundamental entender a diferença entre estar num dia ruim, sentindo-se triste, chateado, irritado ou mesmo alegre e animado diante de uma situação de vida, o viver é assim, dias bons e dias ruins. Tem sido comum na cultura leiga que termos psiquiátricos como “bipolar, narcisista, borderline, psicopata” e outros termos sejam utilizados de forma xingatória, como uma forma de agressão ou deboche, demonstrando o preconceito e a ignorância sobre as doenças psiquiátricas. Portanto, é fundamental diferenciar as alterações de humor dentro dos padrões de uma normalidade pessoal que estão relacionadas com o viver, com sentimentos, emoções, afetos e relações de transtornos do humor que são doenças causadas por disfunção de neurotransmissores cerebrais que exigem tratamento com equipe multidisciplinar para uma recuperação adequada.
AMG: O que podemos dizer mais sobre esse estado de hipomania e mania?
Dra. Lucena Rosa: São fases do transtorno bipolar do humor em que a alteração é o estado de euforia, uma exaltação do humor que diferencia em hipomania e mania de acordo com sua intensidade. A hipomania é bem mais leve que a mania, mesmo assim pode ter um efeito devastador na vida de uma pessoa, geralmente há um excesso de energia, pensamento acelerado, insônia, agitação, verborreia, impulsividade e comportamentos inadequados, impaciência e uma sensação de alegria e bem-estar desproporcionais com comprometimento da percepção da realidade. Na mania os sintomas são muito intensos podendo evoluir com um quadro psicótico sendo necessário até mesmo internação psiquiátrica em alguns casos. As outras fases do transtorno bipolar do humor são a depressão quando os sintomas são opostos, com humor deprimido, baixa de energia, cansaço, desânimo, apatia, perda de prazer e interesses habituais. Isolamento, pensamentos pessimistas e catastróficos, ideação suicida e alterações de sono e apetite. Na disforia a alteração é mal humor, irritabilidade, agressividade e impulsividade. As fases podem ocorrer de forma distinta ou com sintomas mistos.
AMG: Qual a diferença entre o Bipolar do tipo 1 para o do tipo 2?
Dra. Lucena Rosa: O bipolar do tipo 1 sendo quando se alterna entre episódios de mania e depressão, um caso geralmente mais grave, o tipo 2 são casos mais leves quando alternam entre hipomania e depressão. É frequente os quadros de hipomania e mania desencadeados pelo uso de antidepressivos.
AMG: Quem é responsável pelo diagnóstico e quais são as opções de tratamento para o Transtorno Bipolar?
Dra. Lucena Rosa: O diagnóstico é clínico, ou seja, não existem exames laboratoriais ou de imagem que determinem o transtorno bipolar, os exames são feitos para diagnóstico diferencial. Geralmente, o diagnóstico é feito pelo psiquiatra que determina o tipo de tratamento medicamentoso e encaminha para a equipe multidisciplinar. Não falamos em cura para o Transtorno Bipolar, mas pode ser controlado com uma boa qualidade de vida com tratamento adequado como diabetes e hipertensão. O tratamento inclui o uso de medicamentos, psicoterapia, mudanças no estilo de vida e exercícios físicos são essenciais. Quanto mais precoce o diagnóstico melhor são as possibilidades de remissão e volta à normalidade. A equipe multidisciplinar é fundamental para essa recuperação dessa complexidade que é cada ser humano.
AMG: Qual seria o objetivo do Dia mundial do transtorno bipolar?
Dra. Lucena Rosa: Chamar a atenção que o Transtorno Bipolar é uma doença igual a qualquer outra doença, lutando contra o estigma e o preconceito com as doenças mentais, psicofobia, levando informação à população para educar e sensibilizar para a doença que é um desafio significativo para pacientes, profissionais de saúde, familiares e comunidade.
AMG: Como familiares e amigos podem apoiar alguém com Transtorno Bipolar?
Dra. Lucena Rosa: A rede de apoio familiar e social são fundamentais para o sucesso do tratamento. Hoje existe a ABRATA que é uma associação de famílias e familiares de pessoas com transtorno bipolar, onde familiares, pacientes e profissionais de saúde se apoiam através da ciência e do acolhimento.
AMG: Finalmente, gostaria de deixar alguma mensagem às pessoas que vivem com Transtorno Bipolar ou às suas famílias?
Dra. Lucena Rosa: O principal é saber que não se está sozinho e que o diagnóstico e o tratamento mudam o curso da doença podendo dar ao paciente uma vida normal. O paciente não é a doença, ele tem uma doença que pode ser tratada. Curem-se do preconceito e procurem profissionais capacitados na arte da ciência e do acolhimento.
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