ARTIGO: A importância da doação de órgãos para além dos transplantes
Por Dr. Claudemiro Quireze Jr.
Professor Associado Doutor do Departamento de Cirurgia da FMUFG
Visiting Professor – TransplantSurgery / UniversityofCalifornia San Francisco – USA
Presidente do Colégio Brasileiro de Cirurgia HepatoPancreato Biliar
Responsável Técnico pelo Serviço Estadual de Transplante Hepático do Hospital Geral de Goiânia Alberto Rassi
O Brasil realizou seu primeiro transplante hepático em 1968, no Hospital das Clínicas da FMUSP.Os anos 80 trouxeram novas drogas imunossupressoras, aprimoramentos na cirurgia e anestesiologia. Avançamos na organização social com legislação, definição de critérios, compilação e divulgação de estatísticas.
Curiosamente, à despeito de todo esse progresso, uma prerrogativa daquela época ainda persiste, como prova de que a natureza não dá saltos: a utilização de órgãos doados de pacientes falecidos para que outros pacientes possam seguir vivendo.
Fica claro que, na ausência desse gesto de silenciosa compaixão, todo o progresso científico de pouco adiantaria. É por isso que no mês dedicado à esta causa, rendem-se homenagens aos doadores, fundamentais para que o transplante aconteça. Essas famílias, entretanto, contribuíram não apenas para salvar as vidas de desconhecidos em necessidade. São colaboradores do progresso de toda a Sociedade contemporânea. Oportunidades de trabalho são geradas e hospitais envolvidos se transformam em grandes centros de tratamento das mais complexas situações, extrapolando os transplantes de órgãos.Pesquisas no campo dos transplantes trouxeram nova compreensão sobre imunologia, cirurgia, anestesiologia cujos benefícios extrapolaram seu objetivo inicial.
Tivemos o privilégio de iniciar o programa de Transplantes Hepáticos em Goiás. Graças à generosidade dos doadores, profissionais no Hospital Geral de Goiânia puderam destinar estes fígados àqueles receptores inscritos na lista única. Fomos abençoados desde então com doze transplantes hepáticos realizados sem mortalidade operatória e com a satisfação de incluir nosso Estado na estatística brasileira.
É importante o reconhecimento e o respeito às famílias que autorizaram a doação dos órgãos de seus familiares queridos. Elas merecem a satisfação de que os órgãos foram tratados de maneira ética e distribuídos na forma que determina a Lei. O progresso proporcionado por esta conquista pertence à toda a Sociedade, que passa a ser responsável por sua preservação.