Uma notícia para ser comemorada e marcada na história da Medicina goiana: no dia 19 de julho de 2018 aconteceu o primeiro transplante de fígado do Estado, realizado no Hospital Estadual Geral de Goiânia Dr. Alberto Rassi (HGG). Liderada pelo Chefe do Serviço Estadual de Transplantes Hepáticos, Claudemiro Quireze Júnior, a equipe composta pelos cirurgiões do aparelho digestivo Lúcio Kenny Morais, Edmond Raymond Le Campion, Matheus Castrillon Rassi e pela hepatologista Patrícia Souza possui uma particularidade que torna o feito ainda mais especial: todos são médicos que atuam em Goiânia.
Professor Associado do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFG e Presidente do Colégio Brasileiro de Cirurgia HepatoPancreato Biliar, Claudemiro Quireze Júnior conta como foi toda a preparação para a realização desta cirurgia pioneira e como a sintonia entre os membros da equipe contribuiu para que o procedimento fosse realizado de forma tão segura e eficaz.
Médico graduado pela Universidade Federal de Goiás, com residência em Cirurgia do Aparelho Digestivo, o médico dedicou seus anos de pós-graduação, tese de mestrado e doutorado em Fígado, especificamente no tratamento da Síndrome de Isquemia e Reperfusão, fenômeno comum nas cirurgias e transplantes. Em 2007, fez pós-doutorado na Universidade da Califórnia, em São Francisco. Dedicou sua carreira a Cirurgia do Aparelho Digestivo e a Cirurgia HepatoPancreato Biliar. Hoje, realiza cirurgias de alta complexidade nesta área, boa parte delas oncológicas, além do transplante de fígado.
Confira:
PREPARAÇÃO
“Houve um tempo de preparação que não se resume exclusivamente na preparação médica, mas também às credenciais do Hospital. A unidade adquiriu equipamentos permanentes como material cirúrgico, sistema de infusão de líquido, aquecimento e monitorização.
No princípio de 2018, esta estrutura foi vistoriada pelo Sistema Nacional de Transplantes, órgão do Ministério da Saúde. Após esta vistoria, o Hospital recebeu uma portaria de funcionamento que autorizou a listagem do paciente receptor. Foi neste contexto que tivemos contato com o paciente, que havia uma cirrose hepática, grande causa da necessidade de um transplante de fígado. O paciente teve oportunidade de fazer exames durante um período que havíamos recebido alguns equipamentos que permitiram começar efetivamente os procedimentos operatórios”.
EQUIPE GOIANA
“O trabalho é fruto de uma equipe dedicada. Conto com o auxílio dos cirurgiões do aparelho digestivo Lúcio Kenny Morais, Edmond Raymond Le Campion, Matheus Castrillon Rassi e da hepatologista Patrícia Souza. Uma equipe considerada pequena, mas muito dedicada. Trabalhamos de forma afinada. Perseveramos no mesmo objetivo já há bastante tempo. Procuramos sempre nos pautar em uma conduta ética. Exatamente por isto, acredito que demoramos, ou melhor, optamos por não precipitar o processo sem que tivéssemos condições mínimas de trabalho.
Os cirurgiões do aparelho digestivo Claudemiro Quireze Júnior, Edmond Raymond Le Campion, Matheus Castrillon Rassi, Lúcio Kenny Morais e a hepatologista Patrícia Souza junto ao paciente
Também quero destacar a participação da equipe de Anestesia que atende no Serviço durante o transplante, coordenada pelo médico José Fernando Folgosi.
De todos os desafios, o primeiro é encontrar pessoas que partilham objetivos comuns. Segundo está a perseverança. Não é apenas fazer o transplante, mas como fazer o transplante. As pessoas com quem você iráse associar, o tipo de infraestrutura que se tem à disposição são fundamentais.
Nossa equipe é composta de médicos atuantes em Goiânia. Isto me deixa muito satisfeito. Sempre contamos com ajuda de Instituições com experiência em transplantes, o que nos permite acesso ao aprimoramento técnico e científico. O grande pioneiro dos transplantes de fígado, Prof. Thomas Starzl, fez o primeiro transplante em 1963. Nosso transplante aconteceu 50 anos depois do primeiro transplante de fígado no Brasil, no Hospital das Clínicas de São Paulo.
Acredito que nossa equipe se preparou do ponto de vista técnico, elaboramos os nossos protocolos e agora estamos implementando o serviço“.
INFRAESTRUTURA
“O HGG merece nosso respeito, pois foi ousado e investiu em infra-estrutura. O procedimento é de alta complexidade. Ele move o hospital em outras áreas não necessariamente da operação em si, exige muito em exames complementares, em rapidez na disponibilidade destes exames, uma UTI dedicada, um Centro Cirúrgico que permite a agregação de novas tecnologias. Acredito que o primeiro transplante foi a prova de que é possível realizar procedimentos deste porte em Goiás. O hospital está preparado e possui a intenção de manter não apenas a cirurgia, mas um programa, o que é diferente. Ter um hospital que faz o transplante é diferente de se ter um Centro Transplantador.
Na instituição, jáforam feitos mais de 100 transplantes renais em um passado recente, e agora aumentam a complexidade dos transplantes. Ouvimos que existe uma meta de mais transplantes de órgãos na instituição o que aparentemente faz com que ela desponte como um Centro Transplantador em nossa região. É bom fazer parte disto. São objetivos que acontecem simultaneamente”.
CONTINUIDADE
“Não é nossapretensão a soberba. Sabemos que temos que ter cautela. Nestes primeiros meses, nossa pretensão é manter os tratamentos em pacientes eletivos. Acredito que gradualmente irá ampliar o atendimento, com um ambulatório estruturado, bem preparado, dentro da rede do SUS. Todos estes pacientes são referenciados, são formais dentro do SUS, motivo de grande alegria. De fato, conseguiremos contribuir para a vida destas pessoas que precisam da rede pública e infelizmente quando precisavam do transplante tinham que ir para outros centros”.
IMPORTÂNCIA DA DOAÇÃO DE ÓRGÃOS
“É importante lembrar sobre um aspecto fundamental para que o transplante acontecesse, que é a doação de órgãos. Acredito que seja justo dizer a importância da equipe neste processo, pois trabalhamos de forma árdua para conquistarmos o objetivo final que era o transplante de sucesso. Mas houve a necessidade de alguém doar os órgãos. Enquanto o paciente comemorava, havia uma família enlutada. Por isso, temos um respeito profundo por este doador e sua família, pois foi graças a esta pessoa doadora que o fígado e outros órgãos com os rins puderem ser transplantados”.
PRIMEIRO DE MUITOS
“Este é o nosso objetivo. Estamos preparados, motivados, sobretudo, e queremos crescer com responsabilidade e respeito. Entendemos que são doentes muito graves. A distribuição dos fígados acontece com critérios de gravidade. É natural que em algum tempo teremos pacientes cada vez mais graves. Nos desdobraremos para que todos sejam tratados da melhor forma possível. Esperamos que tenham bons resultados em longevidade e qualidade de vida”.
REALIZAÇÃO
“Estou feliz com este resultado. Convivi com grandes dificuldades em minha carreira. No início do meu treinamento, me lembro que para se realizar um transplante passavam-se dois dias trabalhando. Vivi estas experiências ainda jovem e hoje percebo que temos uma técnica mais apurada. Estou satisfeito. Pessoalmente é uma granderealização”.
REPRESENTATIVIDADE
“Quero dividir esta realização com os outros médicos de Goiás. É um privilégio grande dar esta notíciaà Associação Médica do meu Estado, principalmente quando se tem uma equipe genuinamente goiana realizando a cirurgia”.